Onze horas. De novo chegaria tarde em casa com a tão
entediante recepção da esposa. Teria de dar satisfações, como na semana
anterior, perderia a cabeça, a ofenderia e, provavelmente, dormiria no sofá da
sala com a cabeça latejando. Por que não se livrava logo daquele encosto? Por
que não dizia umas verdades na cara daquele demônio? Era isso o que iria fazer
assim que chegasse àquela maldita casa. Iria despachá-la, isso. Isso mesmo! Mas
e o ônibus?! Estava o esperando havia vinte minutos! Atrás dele a fila crescia. As
pessoas o olhavam com um quê de desprezo estampado nos rostos. Qual era o
problema?! O que queriam aqueles bastardos imundos?! O homem pensou em
perguntar, mas não o fez. O olho esquerdo ainda doía do murro levado no bar e,
mesmo sem ele nunca ter confessado, o real motivo por não perguntar era porque
queria evitar confusões.
O sabor do cigarro era amargo e combinava com seu atual
estado de espírito. Apenas a lixeira ao seu lado parecia não se incomodar com
sua presença. A lixeira era a única amiga que possuía e que o queria perto. O
cigarro amargava em sua boca.
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Mas claro que apanharia, não havia como isso não acontecer.
Se aquele saco de músculos idiota não tivesse entrado no meio da briga, teria
destrinchado o magricelinha abusado. Eram
dois contra um. Dois contra um! Injustiça, muita injustiça. Mas se aquele
retardado pensava que aquilo iria ficar assim, estava muito enganado. Não, iria
se vingar.
As pessoas continuavam encarando-o e recebiam em troca um
olhar selvagem, quase assassino. Outra tragada. Mais alguns minutos e se
livraria deles, o ônibus chegaria. Mais uma briga seria desnecessária.
Totalmente desnecessária. Só a lixeira tinha uma aparência acolhedora. Só ela
parecia entendê-lo.
***
A luz dos faróis crescia no horizonte e, após poucos
segundos, já era possível ler as palavras no letreiro do ônibus. Um tempo curto
se passou e ele parou ao lado do homem. Um rangido na abertura das portas. O
homem, então, jogou o cigarro na calçada, entrou e, por sorte, conseguiu um
lugar para se sentar. À medida que o ônibus se deslocava, a lixeira ficava cada
vez menor, até que o ônibus fez uma curva e ela desapareceu.
Olá.
ResponderExcluirPost divulgado.
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Até mais.